Paulo Freire Vive!

Selvino Heck (*)

Em 1962, 300 cortadores de cana foram alfabetizados em 40 horas: ‘De pé no chão também se aprende a ler’. A partir desta experiência surgiu o Método Paulo Freire. Em 1963, convidado pelo governo do presidente João Goulart, Paulo Freire propôs um Plano Nacional de Alfabetização, que alfabetizaria milhões de brasileiras e brasileiros, e a criação de 20 mil Círculos de Cultura. O golpe militar de 1964 `não só acabou com estas iniciativas, que poderiam ter levado o Brasil ao Primeiro Mundo já nos anos 1960: prendeu Paulo Freire por 75 dias, que foi obrigado a ir para o exílio, onde escreveu a ‘Pedagogia do Oprimido’ e ‘Educação como Prática da Liberdade’, e assim ganhou o mundo. Voltou ao Brasil em 1979, depois da grande mobilização por Anistia.

Paulo Freire não parou. Continuou escrevendo, e sendo celebrado no mundo inteiro, por Universidades, movimentos sociais, igrejas, governos. Tornou-se Secretário Municipal de São Paulo capital, na visão de uma educação pública, democrática e de qualidade.

Paulo Freire morreu em 1997, celebrado no Brasil e no mundo inteiro. Foi oficialmente anistiado em 2009 e tornou-se Patrono da Educação Brasileira em 2012.

Em 2019, tornou-se alvo, mais uma vez, da direita conservadora e do governo brasileiro, que gostariam de prendê-lo e exilá-lo de novo.

Por esta história e por causa destes ataques, o CEAAL (Conselho de Educação Popular da América Latina) Brasil propôs, e está levando à frente, a Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire. Na primeira fase, acontecida em 2019, houve o lançamento da Campanha em todo Brasil e outros países. Movimentos populares, movimento sindical, ONGs, Universidades, Cursinhos Populares, entidades da sociedade civil, pastorais sociais de diferentes igrejas lançaram a Campanha em São Paulo, em Recife, em Belém, em Porto Alegre e em centenas de espaços, comunidades, municípios Brasil afora, espalhando seus temas geradores, celebrando sua pedagogia libertadora.

Começa agora, em 2020,  a segunda fase da Campanha Latino-americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire e anunciando as celebrações dos seus cem anos de nascimento em 2021. Três serão os eixos prioritários de atuação em 2020: a) Formação política e trabalho de base; b) Incidência política junto às políticas públicas governamentais; c) Mobilização da classe trabalhadora.

Formação política e trabalho de base: é preciso chegar nas escolas, conversando com professores e alunos sobre Paulo Freire e sua pedagogia. Incentivar processos de formação na base popular, sobre direitos, sobre democracia, sobre a uma educação pública e democrática.

Incidência política: é preciso impedir o desmonte das políticas públicas em geral e das educacionais em particular. 2020 é ano eleitoral, oportunidade de, a partir do ‘Marco de Referência da Educação popular para as Políticas públicas’, de inspiração freireana e aprovado pelo governo federal em 2014, incidir sobre os programas dos candidatos aos governos municipais e às Câmaras de Vereadores.

Mobilização da classe trabalhadora: envolver todos os movimentos populares e sindicais, entidades da sociedade civil, pastorais sociais e populares de diferentes igrejas na Campanha em Defesa do Legado de Paulo Freire.

O primeiro momento de mobilização é o Fórum Social das Resistências (FSR), que acontece no contexto do Fórum Social Mundial (FSM) – ‘um outro mundo possível’-, em Porto Alegre e Região Metropolitana de 21 a 25 de janeiro de 2020. Haverá a Tenda Paulo Freire, haverá Assembleias de Convergências sobre diferentes temas, entre os quais ‘Educação universal, democrática e libertadora’, haverá uma Plenária da Educação popular e uma Assembleia dos Povos e Territórios  dia 24 de janeiro, e mais dezenas de debates e atividades culturais.

Celebrado no Brasil, na América Latina, no Caribe, no mundo inteiro, não será o ditador de plantão do Palácio do Planalto em 2019, apoiador do golpe de 64 e da ditadura militar, protagonista do golpe de 2016, inimigo da democracia, que irá apagar Paulo Freire da História.

Paulo Freire vive! Quanto mais falam, mais vive! Quanto mais querem apagá-lo, mais Paulo Freire é celebrado no Brasil, no Caribe, na América Latina no mundo inteiro. Quanto mais querem prendê-lo e exilá-lo de novo, mais Paulo Freire está e estará presente nos corações, nas mentes, nas consciências e nos processos de libertação do povo brasileiro, caribenho e latino-americano.

(*) Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Em vinte de dezembro de dois mil e dezenove

Fuente: Sul21