EDITORIAL Carta 598

Organizar a resistência contra o fascismo

No último 28 de outubro, o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro venceu as eleições presidenciais no Brasil com 55,13% dos votos válidos contra 44,87% obtidos por Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores.

A vitória de Bolsonaro consolida o golpe de 2016, que retirou do poder a presidenta Dilma Roussef, e coloca o Brasil na rota de uma direita de ascensão internacional, ultraliberal na economia e conservadora nos costumes. Pior que isto, Bolsonaro evidencia traços eminentemente fascistas, como o desprezo por negros, mulheres, indígenas, quilombolas, LGBT’s e militantes de esquerda. Ao longo de sua carreira política, fez apologia aos governos ditatoriais brasileiros (1964-1985) e aos seus mais cruéis torturadores, e afirmou, durante a campanha presidencial, que pretende “acabar com os ativismos”, “fuzilar a petralhada” (termo pejorativo referido aos militantes do PT) e que “os vermelhos têm quer ser presos ou exilados”.

A vitória eleitoral desta candidatura apóia-se em amplos setores das forças armadas, no fundamentalismo religioso, no agronegócio e nos estratos mais reacionários da burguesia nacional e internacional. Sustentou-se, também, em uma campanha eleitoral baseada em fake news, na perseguição midiática às candidaturas de esquerda, no antipetismo entranhado nas classes médias e na conivência do poder judiciário, que manteve preso o ex-presidente Lula da Silva e o impediu de concorrer às eleições.

No plano econômico, pretende liberalizar ainda mais a economia, com um amplo programa de privatizações e desmonte das políticas públicas, que significará um ataque frontal aos direitos sociais, trabalhistas e humanos. Mobiliza-se para aprovar uma perversa Reforma da Previdência, que negará o direito à aposentadoria à maioria da população brasileira. Instituirá a chamada carteira de trabalho “verde e amarela”, pela qual os mais pobres serão obrigados a trabalhar sem direitos, prevalecendo o “negociado sobre o legislado”. Nas relações internacionais, buscará o alinhamento com as grandes potências ocidentais, como os Estados Unidos e a União Europeia, fragilizando o Mercosul e as relações bilaterais Sul-Sul. Na educação, seu projeto é de precarização da educação pública, privatização das universidades, fim da gratuidade no ensino superior e cerceamento da liberdade de ensino dos professores, por meio do projeto “Escola sem Partido”, que pretende criminalizar os professores que manifestem posições progressistas nas instituições de ensino. Em face deste cenário adverso, não resta outra alternativa às classes populares a não ser organizar a resistência contra o fascismo e o corte de direitos. Não conseguiremos enfrentar tudo isto se não organizarmos uma ampla frente democrática, multipartidária e articulada com os movimentos sociais, em defesa das liberdades, da democracia e de um projeto popular e inclusivo de sociedade.

É necessário humildade para aprender com os erros cometidos nos últimos anos e superá-los, fortalecer os trabalhos de base e de educação popular, realizar formação política junto aos setores oprimidos, potencializar a resistência nas ruas, nas comunidades, nos bairros populares e, evidentemente, fazer forte oposição democrática no Congresso Nacional, evitando a aprovação de projetos de lei anti-povo.

O cenário é de retrocessos e ameaças às liberdades democráticas e aos direitos sociais, mas estamos convencidos de que a classe trabalhadora organizada será capaz de vencer o fascismo. Já vencemos, ao longo da história, outros regimes ditatoriais e fascistas e o poder popular vencerá novamente!

João Colares da Mota Neto

Mundinha Oliveira

CEAAL Brasil